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Disse-lhe, num momento de intimidade que a emocionou, que a vida, afinal, nunca acaba.
Ele acreditava que as emoções eram eternas, por serem transmitidas de e para os outros, como as oscilações circulares dos lagos, quando neles cai uma pedra… ou uma flor.
No fundo, mais do que a História, o conhecimento ou as realizações mais ou menos materiais que edificamos, ele acreditava que era isso que ficava – a emoção, o amor e a entrega.
Para ele, seria isso que gerava o sentimento de pertença e criava a realidade que nos situa no tempo e na nossa história de vida.
Defendia que há medida em que envelhecemos, a vida se tornava mais rápida e os anos passavam mais depressa e que isso aconteceria porque iriamos acrescentando memórias e o nosso percurso relativo se tornava mais longo.
Talvez fosse por isso – acreditava - que o Pessoa terá dito que o melhor do mundo são as crianças; por terem todo o potencial de uma viagem pela frente, como quanto se manda um objecto ao ar e ele irremediavelmente acaba por cair-nos de novo nas mãos, mais tarde ou mais cedo.
Mas, para ela, Pessoa era um louco, desequilibrado e egocêntrico, que via tudo através do seu próprio umbigo e que se esquecera que os anciões trazem consigo o tesouro dos infinitos momentos.
É que a vida era tão mágica, que fosse qual fosse a nossa idade e circunstância, poderia acabar de repente, mas só acabaria quando realmente acabasse – até aí… era vida, tivesse começado há cinco ou há noventa e cinco anos.
Afagando-lhe o olhar com o seu, ela segredou-lhe mais uma vez ao ouvido, entre outras palavras imperceptíveis, que tinha ainda guardadas muitas jóias para acrescentar ao tesouro que ambos iam construindo.
Ele aparou-lhe os contornos da pele do rosto com as costas de um dedo solto e respondeu-lhe que guardaria todos esses momentos na fímbria do infinito.