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Graça Tavares, na verdade, neste seu inspiradíssimo livro, onde a linguagem se auto-supera – a sua estesia, o seu estilo – atinge a mais alta realização e apura o que em volumes anteriores era já criativamente inventivo, constrói permanentemente o poema em função de imagens-símbolo, através das quais o literal se metaforiza, ou permanece fiel a uma claridade do signo:
Lisboa inaugurada
escada a escada
em peste e aves
no rolar das colinas
perscruta ao longe no horizonte fundo
como se desenhasse nele
um cavalo de tróia sem destino
(…)
Há um poema, depois de lido 1/3 do livro que é, quanto a mim, um
dos mais belos poemas sobre essa Lisboa que queremos esquecer.
A capacidade descritiva e a elipse, a metáfora que se equilibra entre
o literal e a sugestão; certa singeleza que lembra Sophia ou o Eu-
génio do poema “ Lisboa, sabes, eu sei/é uma rapariga descalça e
leve”, dão o enquadramento perfeito para esta poesia se fazer, em
si mesma, duma constante procura de à violência somar beleza,
mesmo quando essa beleza fere:
Diante deste jardim de bancos fechados
diante desta praia de brisa trancada
de areia roubada
neste passeio que não pode ultrapassar quatro casas
três pessoas um gato
estamos dentro da espada
contra a parede
De Prefácio