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A obra de um autor é isto – sempre igual a si mesma e sempre nova e capaz de surpreender e agarrar o leitor.
A temática do tempo é agora mais marcada pelo motivo do envelhecimento.
A angústia daí decorrente, presente em múltiplos poemas, atinge o seu clímax na paráfrase de A Metamorfose de Kafka (p. 109) com uma força tão devastadora e uma tal expressão da impotência humana perante a sua própria destruição que só esse texto já justificava o livro.
E no entanto… A pulsão de vida é também muito forte neste livro. Seja o carinho com que fala das crianças, da sua alegria e imaginação (o carro de arame que é um Toyota) ou a revolta perante o seu inqualificável sofrimento em Gaza.
O deslumbre perante a beleza das jovens africanas ou a partilha emocional da sua pobreza.
O prazer da música que sabemos de cor, mas que não nos cansamos de ouvir.
A presença dos livros que lemos e continuam a alimentar o nosso pensamento.
A presentificação dos amigos distantes ou a homenagem cívica aos que, de várias formas, ousaram combater.
A celebração de Abril e a revolta pelo sonho insatisfeito.
Mas não se trata apenas de passado.
O acto de intervenção situa-se relevantemente na actualidade, na força dos poemas sobre a guerra contra a Palestina.
Há vida neste livro.
E há alegria neste livro, pois é bem vivo o prazer da escrita.
A alegria possível, como nas flores da capa, encimadas de espinhos.
Manuela Cabral