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“De facto, é através deste contar de histórias, tão singelo quanto complexo, na exigência de ser simultaneamente curto e exemplar, que Ana Filomena Amaral “esgaravata”, construindo-a, uma “África” imaginada nas vozes de animais que assistem, atónitos, aos desmandos de outros animais – os humanos. Estes “esgaravatam”, revolvem, corroem, exploram, dominam, vendem, corrompem, matam as entranhas de um continente que, a abrir cada fábula, se apresenta poeticamente através de uma voz feminina. É assinalável a beleza e a densidade lírica desta voz, que perpassa as narrativas e as interliga num todo, dando corpo à terra, à natureza, à energia vital, ao pulsar arquetípico e presente desta África imaginada e convocada num feminino sensível, emotivo, sensual e vibrante.
Ana Filomena Amaral funde com delicadeza e força descrição e narração, vozes múltiplas, personagens vivas, elas próprias, tantas vezes, contadoras de histórias dentro da história. Trata-se de um resgate dos silenciados, das vítimas e dos resistentes à exploração colonial passada e presente da África esventrada, violentada, explorada. Manobrando habilmente informação, pesquisa histórica e mítica, e trabalho estético sobre a palavra, a autora retoma a missão de denúncia dos seus outros trabalhos, fundindo raiva com tristeza, mas conferindo às suas personagens, na constante pureza e verdade dos seus discursos o protagonismo de uma esperança inabalável. Que esta nunca se perca.”
Catarina Martins - FLUC
Coimbra, 10-12-2023