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Seria impossível pensarmos a arte e a literatura, falando em termos de estética, ilesas a esses bruscos impulsos de matizes neofascistas. Pelo contrário, os artistas e escritores estavam não apenas atentos a essa mudança de ares, cada vez mais funéreos, como também sentiam as ameaças à liberdade de expressão e os sintomas de ansiedade em seus próprios corpos. A escrita literária rapidamente incorporou a dança maligna do fascismo - na sua versão bolsonarista -, em suas tramas, mas nunca como reprodução descritiva ou caricatura jornalística. Os aprendizados do “novo realismo” foram importantes na forma pela qual os autores/as vieram a reelaborar o ponto de vista marginal e subalterno. Era preciso balançar a visão de mundo dos leitores a partir do questionamento de suas ideias e valores também inconscientes, os dados cognitivos há muito naturalizados, e que lhes eram familiares. Escrever em tempos de urgência significava construir universos que, simulando o realismo-naturalismo, trouxesse consigo o senso de inquietação e estranhamento nas entrelinhas. Em outras palavras, uma habilidade retórica - na impressão de paisagens, diálogos e vocabulários – que, ao exprimir a crueza do real (violência urbana, assassinato de indígenas, queimadas, feminicídio, apagamento histórico de comunidades quilombolas, racismo etc.), elucidasse a angústia, o medo, o horror, ou aqueles incômodos mais ocultos de nossa experiência de vida.