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–“Quando eram previsíveis os encontros com o senhor diretor, tipicamente Bóer, avantajado, forte e grande, colocava folhas de jornal para proteger os músculos do nadegueiro. Por má sorte era sempre traído pela inusitada sonoridade dos estalidos das vergastadas”.–
Foi numa manhã de um outono soalheiro que recebi a notícia de que tinha um adenocarcinoma, tinha um cancro. Fui submetido a quatro delicadas e complexas cirurgias. Num ambiente assustador e crítico de saúde, entre quimioterapias, comecei, de vez em quando, e teclar algumas palavras, formando frases, que fui modificando, complementando, apagando, reescrevendo ou mesmo adulterando.
A dado momento, sem me aperceber, inconscientemente, embarquei numa viagem por labirintos de retas, de curvas e contracurvas de memórias, de fragmentos da minha vida, e com volição de partilhar as minhas histórias. Vivi momentos que nunca divulguei, muito mais os longínquos, os eternamente esquecidos. Passaram-se anos e anos sem me lembrar deles. É pela mão deste livro que dou a conhecer alguns, como a escola primária e o ambiente político de segregação racial na África do Sul, o regresso à aldeia, de estudante a assistente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, de professor universitário e investigador na Universidade de Aveiro, de diretor da Escola Superior de Artes e Design e, por fim, de convivência com a doença.