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A relação entre Portugal e o Brasil tem sido descrita como uma experiência de ambiguidades geradora de estranhamento. Se, por um lado, se reconhece existir proximidade histórica, por outro, é notório que o vínculo entre os dois países é muito menos intenso do que faria supor a partilha de uma mesma língua e um passado de três séculos de convívio sob governo comum.
Em nenhum outro lugar da sua aventura pelo mundo os portugueses se enraizaram tão profundamente como no Brasil, Apesar disso, há já dois séculos, o desfasamento dos respectivos discursos culturais – ambos marcados pelo ressentimento - não podia ser maior: o Brasil sempre procurando obliterar a memória da sua inegável raiz lusitana (“o ato fundador português”, na expressão de Eduardo Lourenço) e Portugal, numa perene nostalgia imperial, repetindo sem cessar os lugares comuns dos “laços de sangue” que os brasileiros simplesmente recusam ou não querem recordar.
Foi esta percepção genérica que motivou o trabalho de investigação aqui apresentado; inspirado, por um lado, pela constatação de Amado Luiz Cervo de que “algo especial governa as relações entre Brasil e Portugal, parceria eternamente inconclusa” e pela interrogação que o historiador brasileiro se coloca e fizemos nossa: “Que mistério existe a desafiar a compreensão das relações bilaterais?”
Por outro lado, como escreveu Maria de Lourdes Soares, se há ainda, em termos de distância cultural, “tantas léguas a nos separar, tanto mar”, conforme versos de Chico Buarque, como fazer desse mar tamanho “um mar que unisse, já não separasse”, como sonhou Pessoa?”