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De acordo com a teoria de René Girard, o homem, como todos os animais superiores, é um ser mimético: deseja somente aquilo que o outro também deseja, aquilo que o Outro, seu modelo, lhe indica como sendo o mais desejável. Daí que, no concurso para o mesmo objeto, surjam rivalidades, e os indivíduos em disputa façam obstáculo um ao outro, ao mesmo tempo que se imitam não só no desejo do mesmo objeto como nas artimanhas e lutas, para fazer obstáculo um ao outro. Assim, a atenção de cada um centra-se no seu opositor, no seu modelo e obstáculo, acabando por desaparecer o próprio objeto pelo qual se fazia a disputa inicial. Deste modo, o desejo mimético gera violência recíproca também ela mimética: cada um imita o outro nos mesmo golpes, nas mesmas armas, nas mesmas estratégias e táticas. A luta generaliza-se e alastra a todos os membros da comunidade por contágio mimético, gerando-se a confusão violenta, na qual não é possível distinguir a violência de um da de todos os outros: é a luta de todos contra todos.
É esta luta que, segundo Girard, nos primórdios da humanidade, terá conduzido os hominídeos, de um momento para o outro, a descarregar a sua violência num só, acusando-o de ser o verdadeiro responsável pelo sofrimento e por todos os males e desavenças na comunidade - ele é o verdadeiro bode expiatório. Viram-se todos contra um. Ele é assassinado e expulso da comunidade porque representa o próprio mal, o sofrimento e a dor. Mas, porque depois da sua morte, a calma regressou - já que se convenceram que se desfizeram da causa de todos os seus males - então aquela vítima, que até aí tinha sido considerada demoníaca e terrivelmente má, passa a ser vista com um poder transcendente e sagrado, capaz de reconciliar em seu redor a comunidade, capaz de lhe trazer, agora, a paz e a reconciliação através da qual a vida se torna, agora, possível. Esta vítima sacralizada estaria, então, na origem não só das sociedades humanas como da sua religião e cultura, pois tudo a ela era atribuído. Teria nascido, assim, segundo Girard, a humanidade mas contaminada deste pecado original da violência do qual até agora ela ainda não conseguiu libertar-se, apesar da Revelação, para passar a um novo sistema máximo de vida.