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(…) Eles até eram simpáticos comigo, porque, sendo eu o único diplomata que tinha permanecido na Embaixada, depois do 25 de Abril (por ser o mais novo), pensavam, seguramente, que eu tinha ficado por outras razões menos prosaicas. Eu era o mais novo, como mencionei e, como tal, entre pelouros menores tinha a meu cargo a cifra e o expediente, o que compreendia a mala diplomática semanal.
Um dia, entrou-me no gabinete um digno Conselheiro da Revolução, com um gordo pacote na mão. Entregou-me o pacote que vinha dirigido a uns familiares, segundo me informou, e pediu-me para o enviar pela mala diplomática.
O pacote, em questão, devia conter, pelo menos, uma dúzia daqueles queijos franceses que cheiram e de que eu gosto. Mas, assim, tantos e seguramente mal empacotados, era horrível.
Expliquei-lhe que a mala diplomática servia outros fins e, mesmo com toda a minha boa vontade e grande respeito pelo trabalho desenvolvido pelo digno conselheiro e os seus colegas, em prol da democracia, não podia satisfazer o seu desejo, que iria infestar os ofícios e aerogramas de um odor que prejudicaria, por certo, a sua leitura e percepção.
Foi aos gritos que o conselheiro abandonou a minha sala vociferando, entre outras coisas, que “isto não vai ficar assim”.
Pouco tempo depois, deixei Paris e fui para Cabo Verde. Muita gente, incluindo colegas, considerou que eu tinha sido castigado. (…) In Capítulo ''Um pedido do Conselho da Revolução''.