Insira abaixo o email associado à sua conta e clique em "enviar". Receberá no seu email um link a partir do qual poderá criar uma nova password.
Este romance, baseado em factos reais mas intencionalmente ficcionado quanto aos protagonistas e aos lugares, é uma metáfora dos ódios latentes numa sociedade portuguesa caraterizada por barreiras vivenciais, psicológicas e emocionais decorrentes da marcada estratificação social entre as gentes do povo e as famílias abastadas da província, e em que a religião e a sua moral exercem um poder de acomodação à subserviência e à pobreza dos primeiros, condições garantidas, em última instância, pela mão perseguidora e educadora do regime. Anastácio Puga personifica o filho do caseiro da Quinta de Além da Ponte que se aventura numa saída a salto para o Luxemburgo, em fuga às paupérrimas perspetivas de futuro, ao rígido jugo do pai Américo, ao serviço militar e à possível mobilização para a guerra do ultramar. O rapaz acaba por ser preso, interrogado e torturado nas instalações da Direção Geral de Segurança – Porto, tal como os dois amigos fugitivos que o acompanhavam. Contra a vontade de Ana Amélia – a Senhora da Casa de Além da Ponte – e do seu filho João – o mais novo da aristocrática família Queiroz – Anastácio casa à pressa com o seu amor de sempre, a criada Rosa Maria, depois de esta engravidar precocemente, e com ela faz a sua vida na Quinta. Emanuel Queiroz – o ubíquo Senhor Engenheiro da Quinta – tem um papel decisivo neste desfecho, tal como em tudo o que acontece na família, mas fica nas mãos da implacável esposa quando tem de lhe admitir o adultério com a mãe de Rosa, a quem comprara o silêncio quando a expulsou da Casa com a filha no ventre. Marcos, o filho mais velho da linhagem Queiroz, enquanto tenente miliciano, comandou operações de massacre de populações em Moçambique e, por este motivo, abandonou a vida militar e tornou-se opositor do regime, participando, inclusive, no Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, em abril de 73, dissidência que lhe valeu o cárcere em Caxias. Eurico Padeiro, o narrador, que em vão esperou Anastácio no Luxemburgo, onde lhe teria proporcionado um nível de vida que ele nunca alcançou em Além da Ponte, desvenda, no final, a morte precoce do amigo e a ocupação do lugar de caseira da Quinta pela viúva Rosa Maria.