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“Naquela noite, sentiu um estremecer estranho, como um pequeno sismo dentro dela. Tornou a adormecer, sem, no entanto, conseguir pegar no sonho que deixou a meio – que tinha perdido o carro, sonho esse a que estava acostumada há algum tempo.
Quando acordou, de manhã, dirigiu-se à casa de banho e fitou-se no espelho. Aproximava-se, depois afastava-se, e esteve naquele movimento de vai-e-vem durante alguns minutos, até que parou e fixou-se na sua imagem com olhar clínico. O seu rosto mostrava, sem pudor, várias rugas cravadas na pele, de diferentes funduras, e Laura tinha a certeza que eram rugas novas, impecavelmente bem desenhadas, criadas de um dia para o outro. Na testa, entre as sobrancelhas, dos lados do nariz, e acima da boca, como um código de barras. Além das rugas, a pele apresentava agora alguma flacidez, mais percetível se tombasse a cabeça para baixo.
O cabelo, que outrora era farto e brilhante, estava agora mais fino e grisalho, sobretudo nas raízes. As pestanas e as sobrancelhas exibiam algumas falhas. Como se não bastasse, ao aproximar-se mais do espelho, veio a descobrir um pelo isolado no queixo, duro e espetado, lembrando, ao de leve, a bruxa da Branca de Neve.”