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Estando a Autora a completar 25 anos de vida literária, esta colectânea de contos poderá ser talvez o passar em gostoso rolar de câmara lenta do que foi o percurso desses dias com diferentes pessoas e em diferentes lugares. A incidência será obviamente mais notória nos Açores, lugar de raízes e idiossincrasias várias.
Aqui deparamos com uma galeria deveras sui generis em que o ser humano, seja ele ilhéu ou continental, se move e se apresenta em toda a sua dimensão universal. É por isso que o celibato dos padres é vivido de forma tão pungente em "À face de Deus e dos homens", os seres clonados se interrogam acerca dos caminhos por onde as novas tecnologias "poderão conduzir as gerações futuras"(Uma existência de segunda). Ou muito simplesmente os regionalismos exasperados se debatem por mudanças que concretizem anseios justos, políticas novas (As botas do Lourenço). Mas porque não se pode viver nos Açores incólume ao que se passa no resto do mundo,é-se respingado por tumultos de países como o Afeganistão, e vemos o nosso Martinho da Silva a ser confundido com um taliban. Onde mais se manifesta a fina ironia de Mª Luísa Soares é nas reflexões e diálogos das duas personagens de "A viagem aos Açores".Muito divertida a ideia que certos continentais tem dos Açores, das pessoas que lá vivem e do que por lá se passa. Mas o talento da Autora não se esgota por aqui. Há um tema universal a que nenhum escritor foge: o Amor e Mª Luísa Soares não é excepção. O amor lamecha está banido destas páginas.E porque ele é um sentimento dúbio, é tratado como tal, vivendo as personagens o patético de algumas situações, desvarios, fraquezas e destemperos. Quem disse que o ser humano é fácil de satisfazer? Somos também tocados pelo o sentir fundo de algumas personagens onde se sente quão pequenos somos face à intemporalidade deste sentimento. Um livro rico pela variedade e interesse dos seus temas, tratados de uma forma criativa eivados do realismo mágico a que Mª Luísa Soares já nos habituou em obras anteriores.