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Eu não sabia de onde me vinha esta tendência para a subversão, esta ânsia de ser diferente, de chegar mais além, de dar corpo aos sonhos que brotavam, em catadupa, da minha cabeça. E quando julgava que controlava as minhas emoções, quando me convencia de que iria mudar o mundo, quando julgava sentir que a minha felicidade estava mesmo ali, ao virar da próxima esquina, sempre um grande vendaval se levantava e num ápice destruía todos os meus sonhos, todos os meus refúgios. E deixava-me ali, completamente desamparado, chafurdando nos estilhaços que sobravam da tempestade que me atingira, de novo à procura do meu caminho, de novo à procura de uma luz que me alumiasse para que eu descobrisse um trilho que me guiasse e me conduzisse ao meu destino. E travava uma luta sem tréguas para me libertar do buraco negro em que caía nestas situações de absoluto desamparo e desconforto, porque não queria permanecer ali.
– Mas escuta, meu filho? – prosseguiu a minha mãe.
– Sim, minha mãe?
– Atende o pedido que te vou fazer.
– Diz, mãe?
– Peço-te encarecidamente que faças um derradeiro esforço para aprenderes a ser feliz.
– Oh, mãe!!!
As suas palavras ecoaram no silêncio em que aquela cozinha se transformou. Fiquei petrificado, incapaz de reprimir as lágrimas que de repente se me soltaram dos olhos e deslizaram, de mansinho, pelo meu rosto. A minha mãe abeirou-se de mim e envolveu-me com um abraço que só ela sabia o quanto me confortava. Afastou-se um pouco de mim, colocou as suas mãos em cima dos meus ombros, olhou-me nos olhos e deu-me um suave beijo na testa, não sem antes me pedir para eu sossegar. E foi naquele momento que eu fiquei ali a pensar sobre o quanto deveria ser difícil ser minha mãe.