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Rui Correia

O seu nome é Rui Correia, nascido no ano de 1977 em Chelas, num bairro velho de Lisboa que crescia, renascia e evoluía com uma energia única. Um bairro composto na grande maioria por emigrantes, pessoas vindas de quase toda a parte do país, principalmente do interior de zonas mais pobres, à procura de uma vida melhor após o 25 de Abril de 1974, assim como muitos imigrantes de vários pontos do mundo que ali se instalaram e criaram raízes. 


 Chelas era um local em crescimento, muito marcado pelo crime e a droga, mas principalmente por um bairrismo de uma sociedade multicultural única baseada no respeito, família, amizade e amor ao bairro. Um amor que chegava a gerar pequenas guerras internas para disputar qual a melhor zona do bairro. Um bairro temido e falsamente julgado por quem não o conhecia. 


 Nesse bairro nasceu um menino que aos três anos de idade perdeu o cabelo todo e tornou-se único naquele bairro. Filho de dois alentejanos, um o pai do alto Alentejo da bela e acolhedora terra de Vale do Peso e do baixo Alentejo, na terra vizinha dos bens onde sua mãe nasceu, a bela aldeia de Santana de Cambas para onde a família se tinha mudado. Santana de Cambas é um mundo oposto marcado pelo regime, pela pobreza, pela imigração/emigração do seu povo à procura de uma vida melhor, pelo contrabando, vidas duras mas de certa forma assente nos mesmos valores do bairro. Dois mundos recheados de ideais e de histórias de outros tempos recheadas de sentimentos que marcaram a vida desse menino. 


 Esse menino cresceu diferente aos demais e pela ignorância de muitos conheceu cedo a discriminação, a dor, a revolta de ter de se afirmar como igual até ao dia da sua “morte” num violento acidente de viação, aos 14 anos, renascendo um novo ser para o mundo 15 dias depois, com uma nova visão do mundo onde deixou de sentir a necessidade de se afirmar, sem a revolta que incendiava o peito, aceitando a discriminação vendo-a como um problema de quem a tem, abraçando a vida vivendo-a ao máximo, crescendo dando valor a tudo ao seu redor, vivendo amando, cometendo erros, aprendendo até ao dia em que a poesia como que se revelou em mim, talvez no momento mais bonito da sua vida, salvando a vida à sua filha e mulher realizando, sem saber bem como, o parto da sua filha sozinho, mergulhando num frenesim de sentimentos, do pânico à euforia, do medo a sentir-se invencível, sentimentos que se começaram a ouvir de uma forma única, melódica. Nesse dia, aos 25 anos, nasceu o poeta. 


 Um ser marcado pelas lições de vida, por amores e desgostos, duras cicatrizes do peito, um ser abençoado pelas histórias do passado, pelo privilégio de ter trabalhado como emigrante, bem como imigrante na Holanda, tendo conhecido realidades de diversos pontos do mundo através de relatos pessoais sentidos e honestos. Um ser apaixonado com uma visão de um bem global, de um bem maior assente em valores e não no valor das coisas. 


 Um ser que vive hoje em paz em Santana de Cambas rodeado de mitologia, magia, em paisagens de poesia viva, sonhando, escrevendo, gritando por um mundo melhor para todos. 


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