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À laia de biografia natural
(mente pouco mas esconde)
Conheci-o vagamente na infância. Era uma vez numa rua que descia até ao mar. Se assim não foi, faz de conta. Na casa dele não havia um único livro, nem a bíblia tão comum nos hotéis.
O primeiro livro que leu foi “Os Lusíadas” seguido da “Mensagem” e depois “Os Maias”. Programa escolar. Ouvi dizer que descobriu os heterónimos e ter-se-ia tornado um. Viveu assim com os heterónimos de si mesmo ou de si próprio, se souberem a diferença.
Emigrou com os pais. O pai ensinou-lhe todo o ensino primário, de tal forma, que fez com classe as quatro em dois anos, porque tinha regressado com oito anos, que o pai não o queria emigrante, nem imigrante e, se fosse vivo hoje, nem migrante.
Diziam que era muito inteligente. Sei que não escolheu letras porque a matemática dava-lhe mais tempo para ler o que queria.
Descobriu os russos antes dos gregos, nunca quis acabar de ler o Inferno e a viagem de Ulisses, comemorava cada capítulo com a celebração do Bloomsday. Arrematou o Eça na tropa e muitos outros vieram logo a seguir. Não tinha ordem na leitura. Foi desordenada como a caligrafia que mais parecia um exército de hieróglifos. Cedo andou com o Kant, só sabia que nada sabia, mas pensava por isso existia. Mas quem o visse não notava que via quase um antónimo. Escondia-se e camuflava tudo. Agora que chegava aos sessenta representava pior. Era mesmo mau actor. Agora vivia numa casa cheia de livros. E dava muitos. Gostava de os dar. Acho que até a mim me deu. Pouco mais sei dele agora, porque ignoro o que quer fazer.
Mais tarde virei aqui completar o que agora está a começar.