Já com idade para ser avó, pois nasceu em 1962, na freguesia de Fânzeres, vila, naquela época, pequena e pouco desenvolvida, do concelho de Gondomar, nos arredores do Porto, Alcina Souto foi criança e filha única, por isso, sempre com muita necessidade de imaginar.

Frequentou o Liceu Rainha Santa Isabel, onde se tornou assídua da biblioteca e convivia diariamente com as obras dos clássicos Júlio Dinis, Camilo e Eça. Filha de uma família modesta, não raras vezes fintava a verdade, pedindo ao pai livros novos que, segundo ela, a professora de Português mandara comprar. Foi assim que nasceu o seu imenso gosto pela leitura e escrita. Quando terminou o liceu, sonhou seguir o curso de comunicação social, mas acabou por optar, em consciência, pelo curso do Magistério Primário.

Casada, ainda não tinha terminado o curso, mas feliz, mãe de dois filhos que gostaram sempre de ouvir histórias e agora avó de uma neta que, sendo ainda pequena, gosta muito de conversar e de perguntar.

Foi professora do 1º ciclo durante 36 anos, destes, 17 ligados à Educação Especial. Em todos estes anos conviveu e viveu muitas histórias reais e contou muitas imaginárias, sempre com vontade de fazer mais e melhor pelas crianças e suas famílias que com ela conviviam e aprendiam.

Foi coordenadora de departamento, diretora de escola, representante do 1º ciclo no Concelho Municipal de Educação. Criou e desenvolveu inúmeros projetos inovadores, para incluir crianças e jovens com necessidades educativas diferenciadas.

Em 2019, a vida pregou-lhe uma partida! Teve uma rutura de aneurisma cerebral, que a deixou hospitalizada por dois meses e com várias sequelas que, quatro anos passados e muitas terapias depois, a fizeram recuperar para uma vida um pouco mais condicionada, mas aberta a novos desafios.

O facto de ser avó, ter mais calma e mais tempo para viajar, e ter cada vez mais coisas para contar, fez com que acordasse o seu sonho antigo de passar para a escrita todo o seu encanto pelas palavras e pela ingenuidade das crianças.

Foi assim que se tornou escritora de primeira viagem.

Biografia da ilustradora

Maria Irene J. A. M. S. Paula nasceu em 1963 numa freguesia perdida no meio de soutos de castanheiros, em Jou, concelho de Murça. Aos dois anos veio para a Maia, passando a ser esta a sua terra natal.

Frequentou o ensino básico e secundário no Colégio Luso-Francês, tendo de seguida entrado para a antiga Escola das Tecnologias da Saúde do Porto, terminando em 1987 o curso de Técnica de Diagnóstico e Terapêutica de Medicina Nuclear.

Desde 1988 até hoje exerce a sua profissão no Instituto Português de Oncologia do Porto, sendo coordenadora dos TSDT do serviço de Medicina Nuclear.

Pelo caminho ficou o desejo de frequentar a Escola de Belas Artes para poder ser “pintora”.

Casada e com dois filhos, quando estes ganharam alguma autonomia, resolveu não adiar mais a expetativa de aprender a pintar.

Frequentou os cursos livres da Cooperativa Árvore durante vários anos, experimentando diversas formas de expressão artística, não só pintura como a gravura e cerâmica, tendo como professores Albuquerque Mendes e principalmente o Mestre Alberto Péssimo (pseudónimo de Carlos Dias).

Teve a sua primeira exposição individual no Fórum da Maia e participou em diversas mostras coletivas.

Da sua pintura escreveu Alberto Péssimo: “...a pintura da minha amiga Irene resulta deste indizível conflito entre a matéria e o corpo; conflito ontológico a que não se pode escapar.”

Desde então, a expressão plástica tem servido de sossego para a inquietude dos dias.

O desafio que lhe propôs a sua amiga Alcina, de ilustrar as suas histórias infantis, não podia ser mais antagónico do seu traço e da sua pintura. Só lhe resta pedir desculpa pela ousadia, mas como dizer “não” a quem nos está no coração?