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Ernesto
…Eu desligo o meu interruptor e volto à nebulosa realidade do mundo. Sou como todos os outros, só que eles não têm interruptor. Fizeram-se assim. Fizeram-nos assim. Disponíveis a aceitar as sombras das falsas luzes, que nos demarcam territórios inultrapassáveis. Sou mundo e não posso deixar de ser mundo e toda a vontade e todo o sonho são marés comandadas por luas distantes de nós. Ser mundo é aceitar a morte, é vivê-la a cada instante e desde que nascemos. Assim me sinto e vou seguindo o caminho mortal da normalidade, debaixo deste teto, onde os meus pés ganharam raízes. Sou um animal e a razão, a racionalidade é a desculpa para domesticarmos a alma e a razão neste mundo é sinónimo de interesse, de ambição. A minha ambição é desligar-me das coisas sem vida, quando quero. Sair de todas as coisas inanimadas, que são buracos negros que nos chupam a alma, que nos atraem como ímans, porque somos feitos da mesma carne, da mesma matéria negra. Tenho o meu interruptor dentro de mim, que ligo e desligo e assumo a diferença, a fronteira que divide o possível do impossível. Impossível é sair desta terra, deixar de ser carne dentro da carne, de que é feita toda ela. Possível, é descobrir e criar outros mundos, outras realidades sem carne, apenas alma, apenas energia. Não quero ser entendido, apenas quero viver cada um desses mundos, sem me deixar engolir pela escuridão, ou pela imensa claridade de ambos. Rio comigo e de mim e suporto-me, atento a esta animalidade que me condiciona. Mantenho o equilíbrio que só o interruptor me permite. Ele toca-me e abro-me a todas as suas diferentes dimensões. Vivo plenamente a dualidade singular de me encontrar, sem ter de confundir o que os outros julgam inconciliável. O meu sonho tem o seu reino, a minha realidade tem o seu súbdito que sabe ser rei. O meu mundo é o que consigo criar, quando me sinto livre da pele, que nos cobre a todos. Aí venço a morte! Este é o meu segredo…