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- São como os buracos das meias, avô? – perguntei agora.
O avô não respondeu logo. Ele olhou para além de mim, mas desta vez eu já sabia que não vinha ninguém lá além.
- Sabes, tens razão. A meia tem cicatrizes de cada vez que a avó as cose, e as nossas cicatrizes foram primeiro um buraco também. E às vezes, também nos perdemos, como as meias. Vamos pelo mundo das meias perdidas, meio perdidos.
- O mundo das meias perdidas?
- Ah, pois é. Para onde achas que elas vão?
- Não sei, estão perdidas. Eu não sei onde estão as coisas que perco...
- Mas isso não quer dizer que não estejam algures, algures elas têm de estar. E as meias, elas têm um mundo próprio, uma viagem sem outra igual, antes de voltarem a casa. E quando voltam, já não são iguais à meia que ficou à sua espera. Mas, por muito diferentes que elas voltem, continuam a ser o seu par. E isso é que é bonito na viagem das meias, e nas viagens dos crescidos, podermos voltar diferentes, mas o nosso lugar mantém-se.